Hora da testosterona: antes tarde do que nunca

*Percival Puggina


Em 1983 fiz algumas viagens de trabalho ao Equador. Casualmente, estava em curso uma campanha eleitoral presidencial e um dos candidatos – o conservador/liberal León Febres-Cordero, do Partido Social Cristão – atraiu minha atenção.

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Era um tipo comunicativo, enérgico, autoconfiante e seu slogan refletia isso: “Con León si se puede!” (Com León sim, é possível). Duas décadas mais tarde, mensagem semelhante reapareceu na campanha de Obama com seu “Yes, we can” (Sim, nós podemos). 

Recordo de uma entrevista em que alguém perguntou a León se, eleito, iria reproduzir as habituais concessões que os governantes fazem aos partidos e suas lideranças, recuando em temas fundamentais para o eleitorado. O candidato traduziu a pergunta para sua linguagem de campanha dizendo: “Lo que me preguntas es si me voy a bajar los pantalones. (O que me perguntas é se vou baixar as calças). La respuesta es No!”.

Ah, meu amigo leitor! Muito abuso, muito excesso, muitos danos não seriam causados à sociedade se essa afirmação fosse feita com maior frequência entre nós. Tome por exemplo o voto em urnas com impressoras. Estou convicto de que se o parlamento não tivesse mudado de posição sob pressão do TSE, o ambiente político ao longo do ano e meio seguintes até a eleição e no período pós eleitoral teria sido muito mais tranquilo. O dia 8 de janeiro teria sido apenas um domingo a mais no calendário de verão. Mas, como diria León, “se bajaran los pantalones”...

Esta é uma visão masculina sobre muitos dos recentes episódios da vida política brasileira. Minha inconformidade é genuína e desinteressada. Sou um indignado com as perdas consentidas e com a violência institucional contra a liberdade dos cidadãos – males impostos a todos porque tantos de nossos representantes vêm desonrando seus mandatos e as calças que usam.

Já não falo no autosserviço com os recursos públicos, nem nas tantas excelências que desprotegem a sociedade enquanto dela se encaramujam, nem nos que com a vara da cobiça saltaram olimpicamente o muro dos compromissos eleitorais do ano passado e trocaram de lado. A cada movimento desses “se bajan los pantalones”! As exceções – raras, contadas, conhecidas, brilhantes – têm sido focos de luz sobre fundilhos expostos.

Em nome e razão de todas as frustrações e padecimentos dos últimos meses é impossível não celebrar o fio de esperança que começa a se tornar visível nos recentes movimentos de resistência. Por diferentes motivos, inclusive alguns bons motivos, eles se manifestam dentro do Congresso Nacional para reafirmar o Legislativo como legítima e constitucional representação da soberania popular.

Segurança, equilíbrio e estabilidade não virão de um governo com sede de vingança, nem de um STF avesso à divergência atravessando a pauta política. Virão, isto sim, de um Congresso com testosterona, sensível ao clamor nacional, assumindo e resguardando suas competências, coibindo abusos e excessos próprios e dos outros poderes.

*Membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site www.puggina.org, colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil. Integrante do grupo Pensar+.

Este texto, não reflete, necessariamente, a opinião do Jornal da Nova

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