O sobrenatural e o divino não existem

*Pablo Diego Barros


A psicologia moderna explica o motivo pelo qual as pessoas acreditam que somente o ponto de vista delas é o único correto. O sistema de crença religioso, por exemplo, atua de forma a estabelecer, dentro da cognição humana, preceitos infalíveis e infalseáveis de acordo com o método científico. Por este motivo, é sabido que a doutrinação intelectual desde tenra idade, baseada em dogmas teológicos, incute a formação de conceitos e explicações do mundo que, para a maioria das pessoas, são irrefutáveis, mesmo quando confrontados com a realidade material.

É indubitável que a maior parte dos indivíduos professa alguma crença religiosa. Mas o ponto nevrálgico em acreditar que elementos transcendentes existem é que as pessoas procuram adaptar as circunstâncias às suas crenças religiosas que defendem ao invés de ajustar as suas convicções aos fatos da natureza. Isso é o que se chama de dissonância cognitiva, fenômeno psicológico que explica, por exemplo, porque algumas pessoas tendem a acreditar que um ser humano tenha sido concebido da relação de um inexistente deus com uma mulher virgem, como narrado na Bíblia. Ou seja, buscam coerência em suas ideologias e crenças, mesmo que a realidade contraponha com fatos.

Todas evidências disponíveis certificam que a partenogênese, que é o desenvolvimento de um ser vivo a partir de um óvulo não fecundado, é impossível de acontecer em seres humanos. Carlos Orsi, no interessante ‘Livro dos Milagres’, lembra que “concepções sem a interferência do gameta masculino já foram observadas na natureza, em diversas espécies - de insetos a peixes, répteis e aves - mas jamais em mamíferos”.

Apesar disso, a compreensão calcada em noções metafísicas ainda tem a faculdade de convencer muita gente, o que desvia do pensamento científico e racional, única ferramenta eficaz e suficiente para demonstrar a realidade do mundo como ele realmente é. No livro ‘Ciência e Pseudociência’, o doutor em Psicologia Ronaldo Pilati alerta para a incapacidade do ser humano de rever conceitos e de ponderar sobre ideias diferentes daquelas que aquiesce, o que é conhecido como viés de confirmação.

O pesquisador adverte sobre a necessidade constante de sermos céticos em relação aos dogmas religiosos e termos uma postura racional de compreensão do universo. Ele assevera que “mesmo com todos os elementos a favor de suas ideias é sempre possível que elas estejam erradas, incompletas ou imprecisas”. Este comportamento incessante de dúvida a que o escritor se refere é extremamente necessário porque todas religiões são criações humanas - e cada religião alega que somente a sua é a verdadeira, sagrada e infalível.

Historiadores não cristãos - ou seja, pesquisadores que não fazem parte do movimento de apologia ao cristianismo - já certificaram que a Bíblia não é um relato histórico factual de pessoas e eventos do passado. Ao contrário, acadêmicos e especialistas em exegese bíblica confirmam que a confiabilidade histórica da narrativa do livro reverenciado pelos cristãos é extremamente baixa, uma vez que se trata de mitologia formada por coletânea de estórias teológicas de natureza confessional, de acordo com o método de análise histórico-crítico, e não possuem relação com a historicidade do passado.

O historiador David Fitzgerald no livro ‘Dez mitos cristãos que mostram que Jesus nunca sequer existiu’ ensina que “há provas abundantes de que houve adulteração dos manuscritos bíblicos por copistas cristãos e que isso ocorreu durante muitos séculos”. Outro ponto extremamente relevante é que a Bíblia encerra, em seu conteúdo, numerosas contradições de narrativa, erros históricos e geográficos, inexatidões, invenção de personagens que nunca existiram no mundo real, discrepâncias, criação de situações mágicas e fraude textual.

Na mesma linha de estudo, o historiador, filósofo e escritor americano Richard Carrier, especialista em Novo Testamento e uma das maiores autoridades no assunto e cujo trabalho é revisado por pares, assegura que a Bíblia é uma literatura ficcional inventada por uma comunidade e não um livro de história. No monumental livro ‘On the Historicity of Jesus’, Carrier testifica que “os Evangelhos simplesmente não são registros históricos, mesmo quando tentam se passar por tais, como outras literaturas ficcionais frequentemente fizeram no passado”.

O doutor em história, com base no consenso acadêmico, constata ainda que o objetivo do Novo Testamento era propagandear uma concepção teológica para convencimento de tal forma que “os Evangelhos são construções literárias inteligentemente desenhadas por seus autores para comunicar o que eles queriam, cujos elementos sobrenaturais não correspondem à historicidade do passado”. Em razão de todo o exposto, é importante saber que o fato de algo estar escrito em algum livro religioso alegado como sagrado não significa, necessariamente, que os personagens, e os acontecimentos narrados, possuam veracidade histórica.

Para finalizar, é sempre válido lembrar um aforismo atribuído ao renomado astrônomo americano Carl Sagan, que determina que alegações extraordinárias exigem provas extraordinárias. Portanto, siga as evidências onde quer que elas estejam e não acredite somente por acreditar. A abordagem científica, cética e racional tem como característica mostrar o funcionamento do universo com objetividade, ao contrário da dimensão religiosa, cujos predicados são diferentes de religião para religião, são subjetivos e não podem ser comprovados.

*É bombeiro militar, ateu, cético e questionador, morador de Nova Andradina e tem 38 anos.

Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Jornal da Nova

Cobertura do Jornal da Nova

Quer ficar por dentro das principais notícias de Nova Andradina, região do Brasil e do mundo? Siga o Jornal da Nova nas redes sociais. Estamos no Twitter, no Facebook, no Instagram e no YouTube. Acompanhe!