Paradoxos do tempo

*Felipe Pereira


Fui abençoado com a habilidade de viajar no tempo. Podem até me chamar de egoísta pela decisão que tomei, eu não estava completo, voltei ao passado e me escondi; talvez um dia eu retorne para casa, porém, por enquanto, apenas quero ficar por aqui.

Eu nasci na década de noventa, meus pais não compreendiam minha situação; quando eu era um bebê, eu sumia e reaparecia. Já me levaram a especialistas, e até a exorcistas. Ninguém nunca conseguiu descobrir o que se passava comigo. Conforme fui crescendo, entendi meus poderes. Enquanto jovens comuns saiam a noite para ir a baladas, eu frequentava a shows de rock nos anos sessenta, as vezes nos anos setenta. Sempre achei divertido ver minhas banda favoritas ao vivo no auge de suas carreiras. Enquanto as outras pessoas ouviam essas lendas pela internet, eu ouvia pessoalmente.

Em um dia comum, decidi passear pelas ruas da minha cidade, no tempo presente. Os dias atuais não tinham as mesmas fantasias e encantos dos tempos antigos. Fui a um bar, pedi uma cerveja.

 - Você é o carinha que mora perto da minha casa. – Disse-me uma jovem a qual eu não conhecia.

 - Desculpe-me, mas acho que você me confundiu. – Eu disse secamente.

 - Você é o Bryan, certo?

 - Sim, eu sou. E você quem é?

 - Alice.

Tomamos umas cervejas e nos conhecemos melhor. Na medida que os dias iam se arrastando, fomos ficando amigos, e depois namorados. Vivi tempos felizes ao lado de Alice, contudo a relação foi ficando conturbada, até o momento em que ela me traiu. Abandonei tudo: amigos, família, trabalho, estudos. Tomei uma grande decisão, decidi sair de 2018 e ir para 1980.

Estabeleci-me neste período, arrumei um serviço de motorista. O problema de viagens no tempo, são os paradoxos criados por ela. E o problema maior ainda é quando o destino decidi brincar com sua cara. Em uma sexta-feira decidi ir ao show da banda Queen. Sentei-me no bar do estabelecimento e pedi uma cerveja, uma moça se aproximou.

 - Por que você está bebendo sozinho?

Meus olhos se arregalaram, eu não acreditava no que estava vendo, uma jovem semelhante a Alice jazia parada diante de mim.

 - Alice? – Eu perguntei atônito.

 - Não! Meu nome é Arianne, mas quando eu tiver uma filha irei chamá-la de Alice, é um bom nome.

Eu simplesmente ri. Arianne era a mãe de Alice, quanta ironia. Irei sofrer duas vezes; mas eu poderia fugir para mil anos no passado, o destino continuaria a se caçoar de mim. Pedi ao garçom duas cerveja, e deixei a vida acontecer.

*Estudante de contabilidade e morador de Nova Andradina

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