Nova Andradina registrou 31 tentativas e cinco suicídios este ano

Dados preocupam a Secretaria de Saúde, que desenvolve ações de conscientização e prevenção ao suicídio

Glaucia Piovesan, Da Redação


De 1° de janeiro a 31 de setembro de 2017 foram registradas 31 tentativas e cinco suicídios em Nova Andradina. Somente no mês de setembro, mês de conscientização e prevenção ao suicídio, foram três registros de tentativas de autoextermínio. Julho, com sete, foi o mês que houve maior número de tentativas.

Esses dados são do setor de vigilância epidemiológica e da Polícia Militar de Nova Andradina e foram apresentados com exclusividade ao Jornal da Nova pela coordenadora e enfermeira do Caps (Centro de Atendimento Psicossocial), Graziela Braz da Silva. 

No Vale do Ivinhema, a situação também é preocupante, pois do ano passado para cá houve um crescimento de 44% nos índices de suicídio na região. No ano passado, foram contabilizados nove casos de pessoas que tiraram a própria vida. Em 2017, até agora, são 13 casos.

Somente em Nova Andradina, seis pessoas cometeram suicídio nos últimos dois anos, sendo cinco somente neste ano. Desses, quatro aconteceram em Nova Casa Verde, todos por enforcamento.

Chama a atenção também os dados referentes a cidade de Ivinhema, com cinco suicídios nos últimos nove meses, mais do que o dobro do ano anterior, quando houve dois autoextermínios. Os outros casos de 2017 ocorreram em Anaurilândia (1), Batayporã (1) e Santa Rita do Pardo (1).

Graziela Braz da Silva, coordenadora e enfermeira do Caps – Foto: Luis Gustavo/Jornal da Nova

Já no ano de 2016, houve registros ainda em Batayporã (2), Bataguassu (3), Novo Horizonte do Sul (1) e Nova Andradina (1), já citado.

Número de Suicídios Vale do Ivinhema

Comparativo 2016/2017 – base de dados PM Nova Andradina

Segundo análise da enfermeira Graziela, a grande maioria dos suicídios é cometida por homens, de faixas etárias variadas, entre 21 e 78 anos. Já as tentativas são mais comuns entre as mulheres.

“As mulheres tentam mais, no entanto, usam métodos não tão eficientes, como o uso excessivo de medicamentos. Então, é difícil tomar a dose certa que possa causar a morte. Os meios mais objetivos e de maior eficácia são o enforcamento e a arma de fogo, os quais os homens têm mais acesso”, avalia a coordenadora, que acredita que os números de tentativas ainda podem ser maiores, já que em muitos casos, as pessoas não procuram atendimento médico.

Fazendo um recorte apenas na Cidade Sorriso, a maior preocupação é com o aumento nos índices de suicídio em Nova Casa Verde. Quatro dos cinco casos foram registrados na Vila. “A taxa de desemprego é grande e as condições sociais e financeiras não são as ideais, portanto, estão na faixa de risco social. Um dos casos registrados, por exemplo, trata-se de uma pessoa com transtornos mentais, atendida no CAPS, jovem, de família desestruturada e acabou cometendo o suicídio”, explica.

Graziela Braz da Silva, coordenadora e enfermeira do Caps – Foto: Luis Gustavo/Jornal da Nova

Também há casos de pessoas que sofriam com depressão, ou estavam em estado depressivo momentâneo, rejeição e outros fatores sociais que podem levar ao suicídio. “90% dos suicídios são planejados. A pessoa fica, em média, seis meses planejando o crime. Têm alguns casos de impulso, quando envolve usuários de drogas, mas isso é uma minoria. Há também muitos casos de traumas de infância, abusos e negligências que influenciam muito na decisão das pessoas”. 

Prevenção

Permeado por tabus, o suicídio foi o tema discutido no Setembro Amarelo em Nova Andradina.  A iniciativa, inédita no município, teve com o intuito de conscientizar a todos de que é sim preciso falar sobre as mortes provocadas pelas próprias vítimas, geralmente ocasionadas pela incompreensão, falta de diálogo e depressão.

A enfermeira Graziela Braz é uma das responsáveis pela capacitação dos profissionais de saúde da família e coordenadora de ações realizadas durante todo o mês de setembro como vídeos, palestras para universidades, escolas e abordagens junto à população.

Para a profissional de saúde, o Setembro Amarelo veio para a sociedade pensar na dor do outro. É preciso começar a prestar atenção nos sinais e comportamentos do outro, aquele que está próximo de cada um, seja no ambiente familiar, no trabalho ou naquilo que está postado nas redes sociais.

“A proposta da campanha era tirar alguns mitos como de acreditar que a pessoa que se mata não avisa. É o contrário. O suicida vai deixando brechas e, de alguma forma, está pedindo ajuda. Por isso, o panfleto distribuído traz algumas frases de alerta ditas por pessoas que estão pensando em suicídio”, descreve Graziela.

Graziela Braz da Silva, coordenadora e enfermeira do Caps – Foto: Luis Gustavo/Jornal da Nova

Caso se perceba sinais de que alguém pretende tirar a própria vida, o mais indicado é procurar o apoio de especialistas. Os conselhos, muitas vezes, podem atrapalhar. Em Nova Andradina, a porta de entrada para os pacientes são os ESFs (Estratégia Saúde da Família). “Encaminhamos aos ESFs, onde um médico e uma enfermeira irão fazer uma avaliação. Se achar necessário somente a medicação, a ESF já inicia o tratamento. Agora, em alguns casos específicos, é encaminhado para o acompanhamento de psicólogos ou psiquiatras”, relata a enfermeira.

Ao final, Graziela afirma que os trabalhos serão mantidos permanentemente e desenvolvidos pela equipe de saúde mental do município. “O Setembro Amarelo foi um despertar sobre a prevenção ao suicídio. Só que as atividades vão ter continuidade durante o ano inteiro. Estamos à disposição de todos”.

Dados de Suicídio no mundo e no Estado de MS

A cada 40 segundos uma pessoa morre por suicídio no mundo. O suicídio é a segunda causa de mortes entre jovens no Brasil, ficando atrás apenas dos acidentes.

Mato Grosso do Sul é o segundo no País em mortes por suicídio. São 197 mortes por autoextermínio por ano, o que quer dizer que a cada 44 horas uma pessoa tira a própria vida.

Apesar da elevada estatística ele acredita que os números podem ser ainda maiores. Muitos casos são registrados como asfixia, acidente doméstico, causas desconhecidas e que na verdade são tentativas de suicídio com êxito.

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