Curso de História da UFMS discute genocídio indígena em MS

Representantes indígenas causam comoção entre os participantes

* William Gomes


Na noite da última quinta feira (21) a Universidade Federal de Mato Grosso do Sul recebeu o Advogado Anderson Santos, que foi colaborador na CPI do Genocídio dos Povos Indígenas, o Professor Anastácio Peralta e o jovem Elso Guarani, acadêmico da FACULDADE INTERCULTURAL INDÍGENA – FAIND  os dois indígenas são representantes do povo Guarani Kaiowá, do tekohá Tey Jusu, na região de Dourados.

O objetivo inicial deste evento era apenas um debate acerca do Genocídio dos Povos Indígenas no MS, mas a comoção tomou conta de todos quando o vídeo “A sombra do delírio verde” mostrou imagens dos massacres ocorridos no MS por grupos paramilitares formados por fazendeiros contra famílias dos povos, que resultou num assassinato brutal.

Esses episódios no Mato Grosso do Sul não podem ser tradados apenas como “mais uma morte” ou “mais um ataque”. Não podemos tratar estes conflitos como comuns, ataques armados tomados de ações violentas e totalmente desproporcionais contra as famílias indígenas, um verdadeiro genocídio, pois mais de 300 lideranças indígenas foram executadas no Mato Grosso do Sul.

A violência a que estão submetidos os Guarani-Kaiowá no Mato Grosso do Sul é resultado de um processo histórico recente, de desumanização e desrespeito à legislação brasileira, iniciado no governo de Getúlio Vargas. Os mais velhos são testemunhas vivas da invasão de suas terras. Em 1943, quando o governo Vargas criou a Colônia Agrícola Nacional de Dourados (CAND), os Kaiowá viviam em suas terras de maneira tradicional, ou seja, em pequenas comunidades com até 100 famílias articuladas por redes de relações socioculturais e ambientais. Como parte do programa “Marcha Para o Oeste”, o governo Vargas incentivou a invasão dessas terras por colonos e fazendeiros.

As colônias se transformaram em fazendas; a floresta, em pasto e lavoura; e os Guarani-Kaiowá foram sendo expulsos de suas terras e obrigados pelo Serviço de Proteção aos Índios (SPI) a se assentarem em oito pequenas reservas, processo similar ao de “confinamento”. Os Kaiowá dizem que foram “enchiqueirados”, comparando seu destino com o cerco realizado pelos fazendeiros para conter porcos. As reservas atendiam ao propósito de liberar as terras para as fazendas e manter os indígenas sob controle. O resultado histórico dessa política de governo resultou em aldeias superpopulosas, onde não há espaço suficiente para viver. Os Guarani passaram a viver acuados, cerceados e violentados.

Nos últimos 12 anos, ao menos 585 indígenas cometeram suicídio e outros 390 foram assassinados em MS. O estado tem 23 milhões de bovinos que ocupam aproximadamente, coincidentemente, também, 23 milhões de hectares de terra, isso quer dizer: 1 hectare por animal. Enquanto isso, com a morosidade e a paralisação dos processos de demarcação, os cerca de 45 mil Guarani Kaiowá, continuam “espremidos” em apenas 30 mil hectares de suas terras tradicionais.

As lutas indígenas não são somente para o benefício dos indígenas. Mas uma luta por direitos fundamentais, e uma luta pelo bem viver de todos os seres humanos e futuras gerações, em defesa da biodiversidade e contra as mudanças climáticas que ameaçam a vida humana na terra. É uma luta pelo bem viver de todos.

*Acadêmico do curso de História UFMS, Nova Andradina

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